Santos vice-campeão da Libertadores: qual sentimento fica?
- Felipe Sapia
- 3 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
O cenário era de festa. Após quase 10 anos, o Santos se encontrava novamente na final da Libertadores da América, mesmo com toda desconfiança de todos os lados. A ficha não tinha caído para mim até sábado, acredito que para a maioria dos santistas também não. Mesmo com todos os escândalos que envolveram o Santos Futebol Clube, o elenco ainda buscou o título da Libertadores, estava na final e isso já era motivo de orgulho para a nação santista. Mas, infelizmente, talvez o que tenha tirado o título das mãos do Peixe foi o medo de Cuca.
As partidas pela Libertadores que antecederam a final foram espetaculares. O 4 x 1 no Grêmio foi resultado de um futebol com o DNA ofensivo. Deixei isso claro nas minhas duas análises. O 3 x 0 no Boca também foi resultado do mesmo DNA ofensivo. Cuca optou por ir para estes dois jogos com 4 atacantes (Marinho, Soteldo, Lucas Braga e Kaio Jorge) e 2 volantes (Alison e Pituca). Sem este quarteto de ataque, que revezava com Soteldo e Lucas Braga jogando de meia-armador/falso 9, as goleadas históricas não existiriam. O Santos chegou onde chegou porque não teve medo de perder.
O problema é que o medo afetou o Cuca para a final. O técnico conhece bem a estrutura do Palmeiras, sabe que é um time muito mais sério que o Santos em questão de gerência e que o elenco era muito mais completo e extenso que o do Peixe. Entretanto, ele se esqueceu que futebol se resolve em campo, com raça, dedicação e, acima de tudo, estratégia. Ao ir para o confronto com 3 volantes, abrindo mão de 1 atacante, Cuca deixou claro seu medo. Seu time estava treinando pênaltis há 2 meses, então, pela lógica do técnico, seria muito melhor se segurar e levar a decisão para as penalidades. Isso ficou muito claro quando John, goleiro do Peixe, segurou a bola diversas vezes, ganhando tempo. Talvez Cuca não tenha confiado no futebol ofensivo e este foi seu maior erro.
Alison discutindo com os rivais / Reprodução: Conmebol
Sabe aquela frase genérica: "time que ta ganhando não muda"? Neste caso não podia mudar mesmo. Com um atacante a mais, o Palmeiras teria que se preocupar com mais um atacante, sendo obrigado a desistir da marcação dupla em Marinho. Isso faria com que o Melhor Jogador da Competição pudesse ter mais liberdade para criar jogadas e, consequentemente, criar oportunidades para gols. Assim foi contra o Grêmio e contra o Boca, deveria ter sido assim contra o Palmeiras também.
O futebol ofensivo, que levou os santistas para as estrelas, não compareceu no dia 30 de janeiro de 2021. Que pena!
O jogo em si foi bem ruim. Palmeiras também não veio com sua proposta ofensiva. O medo também afetou Abel Ferreira. A diferença é que a pressão estava do lado palmeirense, afinal, o time tem um planejamento e investimento muito maior. O simples fato de pagar seus jogadores em dia já mostra a diferença entre os times. O problema é que Abel podia e deveria ter medo. Seus jogadores reservas tinham o mesmo nível (ou eram até melhores) dos jogadores titulares. Este planejamento e organização pesou muito para o confronto.
O sentimento que fica para os santistas é o do "E se...?". E se Cuca tivesse entrado com Lucas Braga? E se o chute de Felipe Jonatan tivesse ido no gol? E se Lucas Veríssimo tivesse acertado seu peixinho? E se a bicicleta de Kaio Jorge tivesse força o suficiente? E se Cuca não tivesse sido expulso por um lance besta? No futebol não pode existir o "E se...?". O que passou, passou. Embora seja frustrante perder a final da Libertadores, tanto o Cuca, quanto os jogadores, merecem o reconhecimento e parabenização por chegar tão longe. Tivemos a segunda melhor campanha da fase de grupos e mesmo assim fomos tachados como azarões. Nos deram 4% de chance de passar para as semis, mesmo tendo perdido apenas um jogo. Nos deram 0,02% de chance de ganhar o título antes de começar o campeonato. E mesmo assim perdemos apenas com um gol aos 99 minutos, em um jogo truncado onde dominamos em vários momentos.
Cuca pedindo VAR após sua expulsão / Reprodução: Lance
Sobre os 8 minutos de acréscimo, por mais que realmente não faça sentido, não vale a revolta. Eram 8 minutos para os dois times, qualquer um poderia ter feito gol, assim como poderia ter ido à prorrogação. Palmeiras fez e se consagrou bi-campeão da América. No mais, parabéns à Sociedade Esportiva Palmeiras. Por mais que esteja extremamente triste, fico minimamente feliz por meus amigos e por meu vô, já falecido.
Para os santistas, fica a lição de que isso é o Santos. DNA ofensivo e garra. Essa derrota, juntamente com a da Copa do Brasil de 2015, será responsável por deixar o próximo título muito mais emocionante. Assim como o campeonato brasileiro de 95 abrilhantou a conquista dos Brasileiros de 2002 e 2004. Assim como a Libertadores de 2003 abrilhantou a de 2011. Não há sentido em desistir do time ou se revoltar com os jogadores. Temos uma safra brilhante de Meninos da Vila pela frente. Agora é focar no Campeonato Brasileiro para buscar o G-7/G-8 e disputar a Libertadores novamente ano que vem. Dessa vez, sem medo do começo ao fim. Parabéns aos jogadores por conseguir chegar onde muitos tachavam como impossível. A Nação Santista tem orgulho e admira todos vocês.
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