Cuca realmente tirou leite de pedra no Santos?
- Felipe Sapia
- 17 de fev. de 2021
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Reprodução: UOL
Como todos vocês já sabem, o ano do Santos não foi nada fácil. O Peixe caiu nas quartas de final do Campeonato Paulista para a Ponte Preta quando ainda era comandado pelo Jesualdo. Um vexame. Foi depois deste momento que Cuca aceitou ser técnico do Time da Baixada.
Além de toda pressão da torcida, o técnico ainda teve que lidar com a situação caótica que vivia o clube, mesmo assim, ele entendeu e aceitou o trabalho. A questão extra-campo de Cuca foi impecável. Os jogadores passaram a considerá-lo o presidente do clube porque o técnico fazia de tudo para blindar o elenco de todo clima ruim que rodeava a instituição Santos Futebol Clube. Cuca foi obrigado a lidar com situações como Transfer Ban, Impeachment de Peres, contratação de Robinho (que resultou em uma revolta geral de todas as torcidas por causa de seu processo), dentre outras coisas como salários atrasados.
Logo, eu estaria sendo injusto em criticar o Cuca na parte extra-campo. Ele foi impecável. A relação de amizade dele com os jogadores ficou claro quando conseguiu fazer a cabeça de Lucas Veríssimo para que o zagueiro não se recusasse a jogar em meio às negociações com o Benfica. Esse companheirismo e até papel paternal fez com que o Santos se tornasse um elenco fechado, unido e que todos lutassem por seus companheiros. Sim, o papel de Cuca no extra-campo foi incrível.
Agora, em relação ao Cuca como "gestor" e técnico dentro de campo, a conversa é outra. Não é a toa que muitas pessoas dizem que o transfer ban salvou o Santos, isso não é uma mentira. Se o Peixe não fosse bloqueado, certamente teríamos nomes como Elias (que foi dispensado do Bahia após atuações desastrosas) e Zé Welison (jogador extremamente criticado pela torcida do Galo, foi contratado pelo já rebaixado Botafogo e agora é duramente criticado pela torcida do Fogão). Ambos foram pedidos pessoais de Cuca. Além deles, Laércio, a única contratação do Santos na temporada, foi uma indicação de Cuca e é um dos jogadores mais criticados pela torcida santista. Esse é o primeiro dos problemas, Cuca preferia os jogadores encostados e de qualidade bem duvidosa do que os meninos da base.
Ainda bem que ele foi obrigado a usar a base e que ano brilhante os Meninos da Vila fizeram. Sandry certamente perderia seu lugar para Elias e Zé Welison, mesmo jogando muito mais que eles. Atualmente, o tão criticado Laércio ocupa o lugar de Alex e Derick, dois zagueiros da base muito elogiados e promissores.
Laércio, o pedido pessoal de Cuca. / Reprodução: UOL
Outro problema de Cuca é a insistência em jogadores que claramente não dão certo. A torcida não aguenta mais Jean Mota e Arthur Gomes, mas mesmo assim eles são prioridades nas substituições. Esses jogadores tiram o espaço de nomes como Ivonei, Renyer, Ângelo, Lucas Lourenço, Balieiro e Marcos Leonardo. Todos esses Meninos da Vila foram grandes destaques na base, mas não recebem oportunidades suficientes, são sempre colocados quando faltam 20 minutos para acabar o jogo, no mínimo. Além disso, na maioria das vezes são jogos já perdidos em que o desespero bate e o técnico faz substituições sem nexo. O pior de tudo é que os garotos não têm a oportunidade de render e se queimam com a torcida.
A questão das substituições é realmente um problema grande. Dificilmente o técnico acerta e os maiores problemas disso são os já citados Jean Mota e Arthur Gomes. Mas, o mais absurdo foi a final da Libertadores como um todo. A questão do medo, eu trato depois, porém, como se já não bastasse colocar o Sandry, volante, no lugar de Lucas Braga, atacante, o técnico, no desespero, colocou Madson, lateral direito, de atacante e colocou Wellington Tim, lateral esquerdo que tinha estreado no Santos a poucos jogos e tinha uma minutagem muito baixa. A jogada do gol do Palmeiras aconteceu por falha na marcação do garoto e, logicamente, foi queimado com a torcida. O problema é que não foi ele que se queimou, o Cuca queimou-o ao colocar um jogador extremamente inexperiente no jogo mais importante do ano. Além disso, o técnico quase não o relacionou após isso. Então, qual a lógica de colocar o menino em uma final de Libertadores, mas não relacioná-lo em jogos contra Atlético Goianiense e Coritiba?
Mesmo com tudo isso, o mais grave de Cuca é o medo. Desde sua primeira passagem, já era óbvio que seu estilo de jogo não condiz com o DNA ofensivo do Santos. Sempre que o Santos faz 1 gol, o time recua. Não é possível que um time, vice da Libertadores, leve pressão do já rebaixado Coritiba. Isso é um absurdo. Entretanto, isso não chega nem perto do quão absurda foi a covardia da final. Meu desabafo está no texto Santos vice-campeão da Libertadores: qual sentimento fica?, mas vale ressaltar que esse estilo de jogo reativo, não funciona no Santos.
Cuca, obrigado por aceitar o trabalho mesmo com as péssimas condições, por blindar e unir o elenco como uma família, e por conseguir extrair o que cada jogador tem de melhor. Mas, mesmo com parte da mídia discordando, você não tirou leite de pedra. O elenco do Santos é repleto de jogadores talentosos que tem um futuro muito brilhante pela frente e que poderiam sim, ter ganho a Libertadores. Se não fosse por seu medo, claro. Então, muito obrigado por tudo, mas espero que o estilo de jogo reativo, não só seu como de muitos outros treinadores nunca mais apareçam no Santos.
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