O Verde em Ouro: A Era Parmalat
- Felipe Sapia
- 11 de nov. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 11 de nov. de 2020
Quando comecei a fazer matérias sobre o futebol, a primeira pessoa que me concedeu uma entrevista foi Seraphim Del Grande, atual Presidente do Conselho Deliberativo do Palmeiras e responsável por trazer a Parmalat para o clube nos anos 90. A quem interessar, leia a entrevista com mais detalhes aqui: Seraphim Del Grande: ‘A essência do futebol brasileiro foi deixada de lado’. Sendo assim, o texto de hoje é sobre o período mais vitorioso da história da Sociedade Esportiva Palmeiras.
Os anos 90 são muito bem lembrados por todos os palmeirenses. Considerando que o clube estava em um período de 17 anos sem título (1976-1993), a chegada da marca italiana Parmalat marcou uma mudança dentro e fora dos gramados, reacendendo o orgulho do palmeirense em relação a títulos.
Em 1992, Seraphim Del Grande, diretor de futebol da época, surgiu com uma ideia de co-gestão entre a diretoria do Palmeiras e os representantes da Parmalat. A sugestão, que foi bem aceita por ambos os lados, fez com que muito dinheiro fosse investido no clube. Tal investimento foi responsável por proporcionar a vinda de Luxemburgo e de diversos jogadores em 1993 como Roberto Carlos, Edílson "Capetinha", Edmundo e Rivaldo. Após o desmanche do time feito em 93, o Palmeiras voltou a investir em 96 em jogadores importantes como Cafu, Junior, Luizão, Djalminha e Müller.
Uma característica única desse exemplo de gestão foi que o clube montou uma comissão técnica fixa, ou seja, ao contratar um treinador, ele poderia trazer apenas seu auxiliar técnico. Isso fazia com que, mesmo que o técnico saísse do clube, o trabalho não fosse completamente alterado, afinal, os integrantes da comissão técnica já conheciam seus jogadores e o estilo de jogo que dava certo.
Vanderlei Luxemburgo em 1993 - Reprodução / Lance
Outra decisão que transformou o ambiente do clube foi colocar pelo menos um membro da direção para conversar com os jogadores durante as refeições. Isso fazia com que os jogadores pudessem passar seus descontentamentos ou sugestões para os membros da gestão, aproximando o elenco e a diretoria.
As reuniões eram constantes e todas as decisões passavam pela opinião da presidência, da Parmalat e dos conselheiros, criando, assim, uma união dentro da gestão do clube. A última curiosidade em relação ao extracampo é que os dirigentes faziam reuniões no final do ano para analisar o desempenho dos jogadores e decidir quais seriam as vendas e quais posições precisavam de reforços. Isso fazia com que o elenco já estivesse fechado antes da pré-temporada e criava um clima de união no elenco, sem ganhos nem perdas de jogadores durante a temporada.
Agora, dentro de campo, não há dúvidas que foi criada uma verdadeira seleção. No primeiro ano de parceria (1993), o Verdão conquistou a tríplice coroa com o Campeonato Paulista, Copa Rio-São Paulo e Campeonato Brasileiro. Em 94, ganharam mais um Campeonato Paulista e outro Campeonato Brasileiro. Em 95, Palmeiras não conseguiu ganhar um título sequer, mesmo com seu grande elenco e tal fato resultou na demissão do técnico Carlos Alberto Silva. O ano de 1996 marca a volta do técnico Vanderlei Luxemburgo e o título conquistado no ano foi o Campeonato Paulista. Entretanto, a mudança de técnicos continuou acontecendo e Luiz Felipe Scolari, o "Felipão" foi o escolhido para os anos de 1997 até 2000. Embora não tenha conseguido nenhum título em 97, Felipão e seu time conquistaram a Copa Mercosul e a Copa do Brasil em 1998. Não contente, ainda conseguiram a conquista da Libertadores de 1999, título inédito que todos os palmeirenses esperavam ansiosamente. O último título da Era Parmalat foi a Copa dos Campeões em 2000, torneio que dava vaga na Libertadores.
Reprodução / Lance!
De fato, é necessário destacar o exemplo de co-gestão administrada pela diretoria do SEP e da Parmalat. Os membros da diretoria da época dizem que o contrato da parceria nunca foi assinado, ou seja, embora existisse um acordo escrito com todas as cláusulas, nunca foi necessário oficializá-lo. Logo, fica claro a relação de confiança entre o clube e os "patrocinadores" (Parmalat).
A co-gestão Palmeiras-Parmalat foi histórica e responsável por tornar o clube o Campeão da década de 90. Foram 11 títulos em 9 temporadas, diversos grandes jogadores envolvidos no processo e, sem dúvidas, um gerenciamento invejável.
O fim da parceria foi em 31 de dezembro de 2000. O último jogo que a marca italiana estampou o uniforme do Verdão aconteceu no dia 20 de dezembro e terminou em derrota para o time que acabara de fazer história nos últimos 10 anos. A partida válida pela Mercosul terminou em 4 a 3 para o Vasco da Gama. Entretanto, não era um jogo qualquer, tratava-se da final do campeonato, era o jogo que poderia fechar com chave de ouro a parceria. Embora o resultado tenha sido negativo, não quer dizer que manchou o período histórico, muito pelo contrário, o time do Vasco tinha como protagonistas jogadores como Romário, Juninho Paulista e Juninho Pernambucano. Com 3 a 0 para o Palmeiras no placar do intervalo, a vitória parecia bem encaminhada. Entretanto, o segundo tempo foi marcado por 3 gols do "Baixinho" e 1 de Juninho Paulista, criando uma virada histórica. Em 2020, este jogo foi eleito em votação popular feita pelo GE (Globo Esporte) o maior jogo da história de clubes brasileiros.
Reprodução / Memórias do Esporte
Por fim, confira os números do Palmeiras e do Palestra Itália no período patrocinado pela Parmalat:
Primeiro Jogo: 26/04/1992 = Palmeiras 1x0 Cruzeiro, gol de Paulo Sergio, Campeonato Brasileiro de 1992.
Último Jogo: 20/12/2000 = Palmeiras 3x4 Vasco, final da Copa Mercosul 2000.
Jogos no Palestra: 274 Vitórias: 201 Empates: 46 Derrotas: 27 Gols marcados: 672 Gols sofridos: 236 Saldo de gols: 436
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