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  • Foto do escritorFelipe Sapia

A Era Telê: O Tricolor Paulista em Festa

Como já foi visto no último texto O Verde em Ouro: A Era Parmalat, os anos 90 foram muito importantes para a história do futebol paulista. Assim como o Palmeiras, o São Paulo também viveu a época mais vitoriosa de sua história nos anos 90, a diferença é que o Verdão começou sua era vitoriosa em 1993, já o São Paulo conquistou tudo de 91 a 94. Os São Paulinos devem (e muito) a um monstro do futebol: Telê Santana.


Olhando para 1996, vemos um São Paulo com duas Libertadores (1992/1993), dois Mundiais (1992/1993), uma Supercopa da Libertadores (1993), duas Recopas Sul-Americana (1993/1994), uma Copa Conmebol (1994) e uma Copa Master da Conmebol (1996). Mas, se voltarmos para o ano de 1990, a situação que o São Paulo vivia era outra.


No final de 1990, Pablo Forlán, técnico do SPFC na época, entregou seu cargo com as seguintes palavras: "Vim para ajudar e sinto que estou atrapalhando". Seu trabalho, no geral, não foi péssimo, mas o desempenho pífio no Campeonato Paulista e a campanha morna no Campeonato Brasileiro fizeram com que parte da torcida pressionasse além do necessário, exigindo a saída e até torcendo contra. Isso fez com que Forlán não aguentasse e encerrasse seu ciclo do São Paulo.


Tal descontentamento da parte do técnico com a torcida ficou claro em um depoimento para A Gazeta Esportiva:

“Já era o momento de sair. Há uns seiscentos ou setecentos torcedores que não gostam de mim. Ficavam torcendo contra, e era um peso muito grande. Não para mim, mas para o time, que se via obrigado a ganhar na marra. Esses torcedores não gostam do São Paulo. Estou saindo em respeito à diretoria, ao elenco e aos verdadeiros torcedores são-paulinos.”

Na mesma entrevista, Forlán ainda deu um spoiler do que viria pela frente e fez um pedido para a torcida:

"Sei que o Telê está chegando. [...] Peço aos torcedores que deixem ele trabalhar e incentivem os jogadores, pois só assim haverá progressos"

Os rumores sobre a chegada de Telê ficavam cada vez maiores. O técnico saíra do Palmeiras por "mau relacionamento" com os jogadores e seu futebol ofensivo não agradava a diretoria. Entretanto, seu planejamento era de se aposentar, queria parar de trabalhar com o futebol e até por isso recusou a proposta de diversos grandes clubes.


Vale ressaltar que o técnico tinha a fama de "pé frio" por perder duas copas do mundo com as lendárias seleções de 82 e 86. Por isso, parte da diretoria e da torcida eram contra a vinda dele, mas Carlos Cabloco, diretor de futebol da época, assumiu a responsabilidade e foi atrás de Telê, ignorando todas as críticas.


Carlos Caboclo - Reprodução / Terceiro Tempo - UOL

A negociação não foi nada fácil. Foram meses de ligações e encontros para convencer o técnico, que já estava saturado do ambiente esportivo. Tudo mudou quando Dona Ivonete, esposa de Telê, pegou o celular do Mestre durante uma das muitas ligações e disse: "Ele vai. Ele não recusa um pedido seu! Pode anunciar. Ele vai comandar o São Paulo!" E desligou. Telê realmente aceitou, precisava trabalhar porque sua situação financeira não estava das melhores. Ficou decidido que seu contrato seria renovado a cada 6 meses, dependendo de seu desempenho. Essa foi a escapatória para o clube que estava atolado em dívidas e sem muitos jogadores de grande nome (até o momento) no elenco.


Em seu primeiro ano no cargo (1991), São Paulo conquistou o Campeonato Paulista e o Campeonato Brasileiro. O time-base dessa Era? Zetti; Cafu, Adílson (Válber), Ronaldão e Ronaldo Luís (André Luiz); Pintado (Doriva), Dinho Cerezo e Raí (Leonardo); Müller e Palinha (Juninho). O maior feito de Telê foi escolher abraçar os jogadores mais novos e não cobrar por reforços. Ao olhar para os mais novos, Santana deu espaço para Raí, que até então era apenas o "irmão de Sócrates", e Cafu, dois nomes que mudaram a história do Tricolor.


Cafu - Reprodução / Arquivo Histórico do São Paulo

Os anos de 1992 e 1993 foram tão vitoriosos que residem até hoje no imaginário de toda torcida tricolor. Em 92, o São Paulo conquistou o Paulista e seu primeiro título Continental, a Libertadores. Telê decidiu que o foco daquele ano seria o campeonato continental. O time liderado por Raí, que já era chamado pela torcida de "Terror do Morumbi", foi para o mundial e simplesmente atropelou o Barcelona de Cruyff e Guardiola. O histórico 2 a 0 fez com que o time paulista elevasse seu patamar de títulos.


O ano de 1993 era repleto de expectativas e o final da história todos já sabemos. São Paulo aplicou a maior goleada da história de uma final de Libertadores. Com uma atuação impressionante de Zetti, o tricolor venceu o Universidad Católica por 5 a 1. A final do Mundial foi contra o Milan de Maldini, Baresi, Desailly e Costacurta. O jogo emocionante terminou 3 a 2 para o São Paulo e a frase "Esse gol é pra você, palhaço", dita por Müller, autor do terceiro gol, para Costacurta, zagueiro do Milan, ficou na memória dos são paulinos.


"Esse gol é pra você, palhaço." - Reprodução / Imortais do Futebol

Não tirando o mérito dos próximos anos, mas nada se iguala a 92 e 93. Em 1994, são Paulo ganhou a Sul-Americana e a Copa Conmebol, títulos inéditos em sua história. Já 95 foi um ano sem títulos. Mesmo assim, isso não fez com que Telê recebesse muitas críticas da torcida, afinal, já havia dado o mundo para eles duas vezes.


O fim dessa história aconteceu em 1996 após o técnico ter uma isquemia cerebral. Contudo, a história poderia ter terminado de forma diferente porque em 95, a mídia colocava a saída de Telê como certa. Os meios de comunicação anunciavam semanalmente que o elenco estava insatisfeito com o técnico e, para acabar com essa história, ele organizou um "Você decide" entre os jogadores. Seria uma votação secreta onde cada um escrevia "Telê sai" ou "Telê fica", caso mais da metade dos votos pedissem sua saída, o técnico pegaria suas malas e iria embora na hora. A votação não aconteceu por causa de Toninho Cerezo, que convenceu Telê que aquela história não tinha cabimento.


A "Era Telê" é lembrada até hoje como o período mais vitorioso da história do São Paulo. O técnico, falecido em 2006, é tratado como ídolo da torcida até hoje, sendo responsável por marcar uma geração inteira. Telê tinha uma frase quase como mantra que todos deveriam seguir: "Não é possível atingir a perfeição, mas é possível ficar próximo dela".

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